Queridos amigos:
Venho por meio desta resgatar o infinito suspiro que há muito lancei no espaço.
Trago para matar a saudade o sorriso largo que me escondeu por muito tempo.
Meu corpo está de volta, porém com gestual diferente.
Perdoem-me pela ausência dos modos angelicais.
A vida que escorre pelas suas mãos, passou calejando as minhas.
Informo que a alma recolheu-se num silêncio necessário.
As costas estão expostas. Os pensamentos menos tumultuados.
Ainda sou eu sim! É que agora, um eu observador e irônico resolveu sobressair.
Espero que não se magoem, mas as vivências levaram-me a agir assim.
Ressalto que aprendi a não sofrer com as despedidas.
Levanto a mão e aceno determinando o adeus, a separação, o desaparecimento.
Diante do desencontro de quem fui e sou, desprendi-me da imagem refletida no espelho. Meus dentes eram lágrimas.
Peço solenemente que reparem em meu olhar e se algum de vocês encontrar um vestígio de quem eu era, por favor escreva-me, pois apesar de tudo, confesso sentir saudades de mim.
Atenciosamente,
Alguém que se parece comigo.
Queria encontrar em ti motivos que calem a minha boca
Caminhos que encerrem minha busca
Afagos que alimentem a minha fome
Fluídos que reparem a minha sede.
Queria encontrar em ti
O terreno fértil para plantar as minhas flores
Cuidar de meus pássaros, perfumar os ares,
Soprar brisa de amor, entrelaçar nascentes,
Enraizar calmarias, homogeneizar suor, misturar cuspe
Acender fogueiras bem aos poucos,
fumacinha, depois brasa e chama eterna…
Queria encontrar em teu colo o ninho, o aconchego, o abrigo
Suspirar no teu abraço e me reconhecer no teu olhar.
Queria ver o reflexo do meu corpo nu
no dilatar da tua pupila…
Queria poder ser a loba que sou e perdida por ti,
me encontrar no final que nunca acaba.
Fazer-te estremecer
no libertar da centelha que inspira o recomeçar
Queria voltar ser menina pra sempre
renovada por ti
que eu queria que fosse
palpável e real.
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…sobrevoo
Com o olhar
Tua sobreposição
de asas…
Imensurável beleza
Essa leveza
Das tuas asas – pontas
Em tons de gris
(Degradès) –
Ah, essa paz, essa entrega
Devaneio outonal
De ser flor, repleta de polens
Faço uma oração:
Peço – te Borboleta branca
Leva – me contigo
Estou leve, sem bagagens
Sem despedidas, mas
Levo aquele aroma de incenso –
E, a lembrança
Do último beijo –
Fina e doce gramatura
Teus lábios…
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